ELO 2014

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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A bike como veículo de convivência democrática

Hoje, resolvi postar algo um pouco mais reflexivo, algo que venho desenvolvendo desde que conheci, em meados da década de 90, os conceitos do saudoso mestre Xesús Járes, falecido em 2008, 'pai da Educação para a Paz'.



Primeiro, levo em consideração que a noção de paz que temos é ingênua e está intimamente associada à ausência de guerra. Ou melhor dizendo, à ausência de conflito. Tenciono levar à reflexão de que a Paz não é, em nenhuma hipótese, ausência de conflito.

Tomando um exemplo bastante raso, para que permaneçamos de pé, se faz necessário que haja um conflito entre a força G (lembram, aquela força que faz com que todos os corpos sejam atraídos ao centro da Terra, expressos na equação F = G.m1 . m2 / r^2 , que tende a ser igual a 9,8m/s) e a nossa própria massa, o que permite que empurremos a terra para baixo com tamanha força que seja inversamente proporcional à força que 'ela' nos empurra para cima.

Este conflito não faz com que eu seja esmagado contra o solo, e nem tampouco que cada passo meu abra crateras insondáveis, muito menos que eu seja lançado à estratosfera... Vale dizer, que tudo está em conflito no universo; nosso pensar está em conflito, nossas emoções e razões, nosso saber e nossa ignorância..., a maré contra a areia da praia, o vento contra a copa das árvores, o irromper de um novo dia e a melancólica e perene partida de cada noite...enfim, o conflito é inerente à existência.

O que deve ser pensado, e que talvez nos ajude em nosso cotidiano, é que a resolução do conflito deva ser pacífica. Acreditar que se resolva um conflito levantando a voz ou com uma demonstração de força, é um ato agressivo, que vai encerrar o conflito, com certeza, mas através da mutilação da vontade do outro, de seus argumentos, de suas argüições.

A 'paz positiva' é aquela mantida e irrigada pela aceitação do outro e de sua visão de mundo. Continuaremos a pensar da forma que pensamos, mas nossas certezas são tão absolutas quanto eu adivinhar aquilo que cada um de vocês irá pensar ao ler estas inferências.

Mais do que de respostas, este é um mundo de perguntas. É o que fazemos melhor: perguntar.

Pensamos que a promoção da Paz passa, necessariamente, pela argumentação, pelo questionamento que não quer ferir somente porque questiona, e nem pela contestação que não quer ser violenta ao ser constituída de objeções...devemos pensar a paz como ausência de violência estruturada. Silenciar, quando se pede o diálogo, é violência. Um olhar recriminador ou discriminador é violência. Um professor que 'despeja' o conteúdo em sala de aula sem considerar que cada aluno é UM e que traz consigo um repertório anterior de saberes, experiências e vivificações, está afora de seu tempo e não terá futuro algum, porque mais forte que o método é a crença que leva a usá-lo com excelência.


Se faz urgente a adoção desta noção de paz positiva nas famílias, nos centros educacionais, nas estruturas empresarias e públicas, nas relações amistosas, no esporte, na música (é incrível como ela tem sido usada como instrumento de uma violência insidiosa, silenciosa e mascarada pela apologia ao revide). Fomos feitos para a felicidade, ainda que muitos de nós não tenhamos encontrado os caminhos que levam até ela; sublimamos ser felizes; postergamos realizar-nos plenamente; vivemos criando e inventando desculpas mentirosas para não sermos feliz neste exato momento, acreditando que exista um estoque de tempo para sermos felizes logo mais...quem sabe, quando nos dermos conta seja tarde demais.



Como expressão da aceitação das diferenças, do convívio democrático, do respeito à diversidade natural, cultural e existencial, a Ciclocidadania se lança como um consorte, uma parceira, uma promotora da paz positiva. O silêncio interior provocado pelas trilhas, os sorrisos curiosos dos que nos vêem passar, dos acenos distantes cada vez mais distantes, a vitória sobre nossos limites, a dor plausível, a memória do que aprendemos segundos atrás, naquela curva que ficou enquanto virávamos paisagem...


Professor Sobre Rodas e "O caminho"
Salve a Bicicleta!

Therbio Felipe - Professor Sobre Rodas

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