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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Bicicleta também aproxima



Eu não entendia bem aquela euforia toda de menino no auge dos seus 24 anos de idade subindo numa bicicleta feia e sem sentimentos. Mas ele ia e voltava sempre com um sorriso no rosto e deixava um rastro de terra por onde passava. Não compreendia porque a bicicleta era tão importante e ganhava um banho todo o sábado e aos domingos já estava com lama até o último parafuso. Não havia explicação pra ele sempre querer entender mais sobre bicicletas e menos sobre matemática. São ‘só’ bicicletas, pensava eu enquanto varria pra longe o caminho de terra que ela fazia e ele deixava pra trás. Depois vieram as bolsas de hidratação, os óculos de proteção, os capacetes e novas bicicletas. Duas, três e até cinco. Cinco. ‘Meu Deus! Ele pode comprar um carro se vender tudo isso’ – eu insistia em desqualificar a presença da tal magrela dentro de casa.

Quase não conversávamos. Eu não entendia nada de bicicletas e ele não se importava com meus autores preferidos. Estávamos sempre calados.  Pior era conviver com os amigos. Vez em quando eles apareciam  e perguntavam por ele. Sempre vinham montados em suas magrelas. Umas feias e outras nem tanto. Iam embora e voltavam sempre nos dias seguintes. Deixei de me preocupar. Se fosse loucura toda essa historia de bicicleta, ele não seria o único – os amigos eram a prova disso. Até que veio a primeira moto. Depois o carro. E a bicicleta ficou de lado. As revistas pararam de chegar. Os passeios aos domingos também perderam a importância. Os amigos ainda voltavam, mas já não demoravam tanto como antes. Os anos passaram. Ele casou e arrumou um emprego. Ate que eu pedi a bicicleta emprestada pra uma voltinha. Olhou e sorriu. Alguma coisa estranha aconteceu ali. Ele não podia acreditar no que ouvia e eu no que acabava de falar. Mesmo assim emprestou e fomos para o nosso primeiro pedal juntos. Ele, com sua bolsa de hidratação e capacete e eu, desprovida de qualquer coisa ‘estranha’ do meu guardaroupa. Juntos, ele voltou a pedalar e eu não parei mais. Agora a gente senta no sofá e troca idéia sobre viagens, bicicleta e amigos em comum. Vamos juntos pra bicicletaria e ele me questiona se ‘estou ficando doida de andar toda hora por ai de bike’.

Escrevi esse post pela importância que a magrela representa hoje no meu dia a dia e é até estranho lembrar que meu irmão, o Carlinhos,sempre pedalou e deixou a bike próximo de mim, mas eu nunca me aproximei dela. Hoje, com o site 10porhora e outros amigos que fui conquistando por causa da bike, restabelecemos nossos laços familiares e até nos programamos pra pedalar juntos. A família também se uniu e essa louca idéia de pedalar por aí virou pauta na mesa de jantar. Andar de bicicleta tem dessas coisas: aproxima as pessoas.

Fonte: Postado por Juliane Oliveira em 14/04/2011 na categoria Reflita, em: http://atitudebrasil.com.br/10porhora/

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